Rolês

ROLÊ foi o termo escolhido para expressar as características da pesquisa feita pelo grupo de investigação em campo: uma volta rápida, um deslocamento, conduzido por pessoas anfitriãs, que conhecem e atuam naquele território, que possibilita experimentar diretamente alguns espaços da cidade, percorrendo-os preferencialmente a pé, observar os espaços, acontecimentos e movimentos e dialogar com os agentes que sustentam e dinamizam seus territórios por meio de ações culturais.

Desses percursos, despontaram histórias, descobertas, percepções, perguntas, potenciais articulações. Para apreender a imagética desses percursos, o projeto convidou o fotógrafo e designer Nego Júnior, autor dos ensaios fotográficos que você pode conferir aqui.

perus

Bela Vista – Centro

Making of aéreas

Designer, fotógrafo e produtor artístico e audiovisual, é fundador e participante de diversos coletivos e projetos sociais e culturais. Em seus trabalhos em fotografia, voltou seu olhar para a cultura do samba rock, para os cortejos, festas, saídas de santo, entre outros cultos simbólicos das religiões de matrizes africanas, para os locais e os moradores dos bairros situados na periferia da cidade de São Paulo, como Campo Limpo, Grajaú, Cidade Tiradentes, Pirituba.

Perus

Os anfitriões do rolê por Perus foram Cleiton Ferreira de Souza (Fofão) e Raul Silva Costa, integrantes do Quilombaque, que conduziram o grupo para conhecer espaços públicos que foram reapropriados a partir da participação da comunidade local: a Casa do Hip Hop de Perus, onde fomos recebidos por Edvan da Silva Soares (Boca Noroeste), e a Ocupação Artística Canhoba, onde encontramos a atriz Talita Duarte, uma das organizadoras, integrante do grupo de teatro Pandora. Todos os três espaços são conquistas coletivas da comunidade, motivada pela falta de equipamentos culturais públicos na região. Sabendo da importância de um espaço cultural na formação política e no desenvolvimento da juventude, a comunidade local se organizou e agiu. O estudo e o mapeamento do território possibilitaram identificar potencialidades e capacidades locais que, transformados, se voltaram a novos usos, tornando-se “pólos dinâmicos dinamizadores”, nas palavras do educador e ativista José Soró, o Mestre Soró, precursor do movimento cultural Quilombaque. Espaços não só para expressão cultural, mas também para reivindicação de direitos, historicamente negados.

O ensaio fotográfico realizado em Perus captou esses espaços culturais e as pessoas que neles atuam. Os deslocamentos foram feitos de carro, o que fez com que as imagens focalizem os lugares, porém não o trajeto.

Making of aéreas

Bela Vista

O escritor, historiador e pesquisador Abílio Ferreira conduziu uma caminhada pelo território tendo como pontos de referência localidades ligadas à história da população negra que foi invisibilizada pelas narrativas “oficiais” sobre a cidade. Abílio Ferreira narrou o contexto dos anos 1970 e 1980 da Vila Itororó, quando houve uma reocupação das pessoas pretas, que haviam sido remanejadas anteriormente para bairros mais distantes. Esse retorno foi retratado no conto “A Casa de Fayola”, publicado nos Cadernos Negros em 1985.

Abílio assumiu o lugar de griot, de contador de histórias não contadas, num movimento arqueológico de vasculhar o passado para além da perspectiva hegemônica. Assim, emergem personagens como Tebas, o arquiteto preto responsável por impressionantes obras em igrejas da cidade entre os séculos 17 e 18. Foi também rememorada a história do Aristocrata Clube, fundado em 1961 por homens negros que alcançam uma condição econômica bem sucedida, mas cuja presença era probida em piscinas de clubes tradicionais da cidade. Esses homens, então, construíram a própria piscina, e fundaram um clube pelo qual passaram vários nomes da música negra internacional e brasileira.

Neste ensaio fotográfico, o olhar do fotógrafo Nego Júnior se volta para as ruas, os espaços públicos, em vistas ou detalhes. A estética da fotografia de rua captura a relação entre as pessoas, os espaços, a arquitetura, os nomes dos logradouros, apresentando uma riqueza singular de informações que compõem camadas muitas vezes incógnitas das narrativas históricas. Por meio dessas imagens, Nego Júnior reconstrói poeticamente os apontamentos de Abílio Ferreira.

Ficha técnica

Realização

Intermuseus

Coordenação executiva

Andréa Buoro

Coordenação de conteúdo

Joana Tuttoilmondo

Administrativo e financeiro

Raquel Celso

Gestão dos recursos incentivados

Ana Maria Barcelos de Lima

Proposição metodológica

Ednéia Gonçalves

Pesquisa de campo

Aline Fátima, Andréa Buoro, Bianca Soares Ramos, Fabi Silva, Joana Tuttoilmondo, Marcia Padilha, Nego Júnior, Ronaldo Miranda

Interlocutores convidados – Rolês

Abílio Ferreira, Cleiton Ferreira de Souza (Fofão), Edvan da Silva Soares (Boca Noroeste), Raul Silva Costa, Talita Duarte

Interlocutores convidados – Roda de conversa

Bia Sankofa, Nego Júnior, Renata Motta, Wanessa Sabbath

Comentadores – Roda de conversa

Fabi Silva, José Bueno, Maurício Panella

Ensaios fotográficos

Nego Júnior

Pesquisa e texto das Experiências

Marina Frúgoli

Redação e revisão

Aline Fátima

Edição dos vídeos e comunicação redes sociais

Ronaldo Miranda

Design gráfico

Dínamo Design – Alexsandro Souza

Website

Bruno Gosling e Fabiana Lizak